7Letras, 2012
O que me agrada sobremaneira neste As horas do dia – pequeno dicionário calendário de Leda Cartum é a escrita veloz que não se atrasa nem um segundo. Que está pontual com o que quer dizer. A frase é rápida, não perde tempo nem faz perder tempo. Vai directo ao fim e, no meio, deixa uma mistura de poesia e reflexão calma. A passagem do tempo e as mudanças mínimas do mundo – eis os temas essenciais do livro. (“O domingo se desenrola sem perspectiva, é um dia achatado.” ) Tempo, Primavera, Séculos, Semana, Outono, alguns dos títulos. (“Nessa pequena cidade interiorana chamada fevereiro, as tardes às vezes se detêm alguns segundos a mais, nos terraços e no meio-fio.”) Leda está sempre como que num posto de vigia. Observa, de fora, aquilo que talvez seja uma calma devastação. Não é trágico, mas também não é alegre, esse modo de estar vivo e perceber que se pode olhar de fora até para os próprios pés. A vida por vezes não é nem dormir nem estar acordado, é insónia: não há espaço para fugas (“O tempo de quem não consegue dormir ocupa todos os espaços da cama e persegue todos os movimentos.”) Neste belo livro, as horas do dia tornam-se objectos materiais, coisas que quase podem ser agarradas; elementos do mundo com os quais podemos falar.
Gonçalo M. Tavares
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O relógio insolente
Gazeta do Povo / O Globo
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